top of page

Observatório de Economia Criativa:

como o núcleo de pesquisa atua em Alagoas?

Por Pollyane Martiniano

A economia criativa é um termo ainda pouco conhecido, mas durante os últimos anos ganhou espaço nas rodas de debate dos setores do Poder Executivo – nos âmbitos municipais, estaduais e federais –  ligados à economia, à cultura e à tecnologia. Em contrapartida, o empreendedorismo é um termo mais popular, principalmente após a pandemia – período em que as pessoas decidiram se arriscar ao comercializar produtos na internet para ter uma renda extra. Partindo dessa ideia, fica mais fácil compreender o que é a economia criativa.

Empreender por meio da inventividade, envolver a indústria cultural e produzir valor financeiro são os conceitos que definem a economia criativa. Os resultados das políticas públicas para fomentar o setor podem ser vistos no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que está sendo bastante movimentado pelo segmento. Afinal, são várias as áreas atuantes: artesanato, gastronomia, design, moda, mídias e tecnologias, música e audiovisual, dentre outras.

Para dimensionar o impacto da economia criativa no setor econômico, uma rede de observatórios foi criada no intuito de mapear o desenvolvimento do setor, sendo que atualmente conta com seis núcleos: no Amazonas, na Bahia, no Rio de Janeiro, em Goiás, no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal. Os observatórios funcionam em universidades públicas, com o apoio de secretarias locais e do Ministério da Cultura.

A economia criativa adicionou, em 2022, 2.3% ao Produto interno bruto brasileiro (PIB), o que correspondeu a 223 bilhões de reais.

Fonte: Observatório de Economia Criativa de Alagoas

Apesar de não entrar na lista, Alagoas também realiza pesquisas voltadas para o setor. As iniciativas do professor Elder Maia são exemplos locais, pois vem trabalhando em projetos no Observatório de Economia Criativa do Estado de Alagoas (Obeal) com a finalidade de oficializar e incluir o seu núcleo de pesquisa na rede de economia criativa. Conversamos com ele para saber mais sobre o observatório.

Por que Alagoas não está na Rede de Observatórios de Economia Criativa?

O nosso observatório tinha poucos pesquisadores, é preciso ter um conjunto de pesquisadores da área de comunicação, economia e sociologia que justifiquem a criação do observatório, então a nossa proposta não foi aprovada por conta disso.

Elder Maia:

O Obeal é um núcleo de pesquisa vinculado ao programa de pós-graduação em Sociologia. Sediado no Instituto de Ciências Sociais (ICS), na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), tem atividades executadas pelo professor e por estudantes. Além dos trabalhos de pesquisa, realizam consultoria para o Sebrae-AL. Em maio deste ano, um livro desenvolvido no observatório foi lançado. Organizado por Elder, que também coordenou o estudo, o relatório A Economia Criativa do Audiovisual em Alagoas no Pós-pandemia é dividido em três partes: as tecnologias, a economia criativa e o audiovisual. 

Elder é professor do Instituto de Ciências Sociais (ICS) na UFAL e  possui experiência na área de economia criativa (Foto: arquivo pessoal)

O trabalho do orientador do observatório se estende para além da universidade e no momento, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, o professor está fazendo um mapeamento do setor criativo de Maceió, com o objetivo de auxiliar na criação de políticas públicas e para a definição de recursos por meio da Lei Paulo Gustavo. Através desse investimento, é possível a elaboração de editais importantes para o fomento da economia criativa no município. O mercado é bem receptivo nacionalmente e localmente.

Elder Maia:

O observatório coleta esses dados, observa tudo e depende também claro, como um núcleo de pesquisa, do interesse dos estudantes. Então cada vez que os estudantes chegam ao final do curso, com os TCCs, com as dissertações e se interessam pela área, a gente consegue focar em um aspecto (...) Temos dissertações sobre o impacto econômico do artesanato, já tiveram dissertações sobre o mercado de livros, específico das bienais, tem trabalho sobre o festival de cinema independente e agora sobre o São João no ano passado.

Em Alagoas, em 2022, a economia criativa foi responsável por 580 milhões de reais, sendo Maceió responsável por 65% desse valor, ou seja, 377 milhões.

Fonte: Observatório de Economia Criativa de Alagoas

Como o observatório colabora com as secretarias de cultura?

Os estudantes do observatório fazem esse trabalho de coleta de dados juntamente com Elder, e mesmo com poucos pesquisadores os estudos sobre o mercado cultural local colocam em evidência a necessidade de produzir conhecimento na área criativa. A exemplo de Penedo, que entrou na lista de consideração da Unesco para a Rede de Cidades Criativas. Por isso o mapeamento é necessário: ao saber as potencialidades do estado, fica mais fácil dialogar com o Ministério da Cultura para investir em Alagoas.

Em seu livro, o professor ilustra dados relacionados ao audiovisual alagoano e o progresso do segmento no cenário independente é notável. Um levantamento do observatório em 2022 mostra que há 32 produtoras audiovisuais cadastradas à Ancine em Alagoas; em 2019, eram 24. Elder associa o crescimento às consequências da pandemia, que foi muito difícil para diversos segmentos tradicionais, mas criou espaço para a formalização de trabalhos que poderiam ser feitos remotamente ou parcialmente pelas mídias e tecnologias.

No dia 14 de maio eu estive em Penedo participando do lançamento oficial da candidatura do município como cidade criativa na categoria do audiovisual. Poderia ser na categoria de patrimônio material, porque a cidade é um sítio histórico arquitetônico lindíssimo, mas existe o Festival de Cinema de Penedo e o audiovisual é o mercado que mais cresce na economia interativa global.

Elder Maia:

A observação sobre o crescimento do consumo de filmes nas plataformas de streaming é muito importante para entender a ligação entre economia criativa e tecnologia. Em nossa conversa, o professor apontou que os brasileiros estão conectados nos dispositivos móveis, sobretudo os smartphones, em uma média de 10 horas por dia. Isso torna o mundo virtual um local para a movimentação do mercado, principalmente por meio de anúncios. Ainda mais se falamos do mercado criativo, são muitas possibilidades de produzir conteúdos que chamem a atenção do público.

Durante a pandemia, as atividades fora do lar recuaram muito como, por exemplo, cinema, shopping, o próprio turismo cultural, visitas a galerias, etc. Mas o mercado do audiovisual online, os canais de streaming e as plataformas de assinatura tiveram um crescimento muito significativo.

Elder Maia:

Nessa perspectiva, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) se tornaram aliadas da economia criativa. Em Alagoas, a Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e da Inovação (Secti) atua na criação de projetos voltados para o segmento. Atualmente, o programa OxeTech oferta cursos gratuitos para capacitar profissionais da área. Esse impulso no estado é necessário para ter mais pessoas aptas a atuar na economia criativa. O observatório e as secretarias seriam apenas o começo dos núcleos dedicados ao setor. O pesquisador tem alguns planos para fortalecer o mercado criativo em Alagoas.

Em síntese, há três objetivos: a curto prazo, para que o observatório se estruture, o lançamento de um site que abrigue todas as pesquisas, todas as publicações em PDF, dissertações, teses, enfim. (...) Um evento de caráter nacional que a gente quer atrair, é provável que eu escreva um projeto agora e seria aqui na UFAL. Certamente, teria interesse também como interface o governo do estado e a prefeitura. E o terceiro, que demanda um pouco mais de tempo, disponibilidade e capital humano, uma especialização ou um mestrado profissional em economia criativa. Todos esses três estariam vinculados ao observatório pela minha atuação e de outros colegas.

Elder Maia:

É com essa promessa que terminamos nossa conversa e torcemos pela concretização dos projetos – além de estar aguardando ansiosamente pela construção do site do observatório. Como núcleo de comunicação na universidade, esperamos contribuir com a divulgação de iniciativas tão importantes como os projetos de pesquisa desenvolvidos pelos docentes e com participação dos discentes da UFAL.

FORMA_Prancheta branca.png

Produto editorial desenvolvido na disciplina Oficina de Edição de Mídia Impressa e Digital. 

Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas.

Campus A. C. Simões.

Maceió (AL), setembro de 2023.

Jornalista responsável: Vitor Braga (MTE 1009 AL).

©2023 por Ufal. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page