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Alagoas:

o núcleo de uma inspiração

Por Guilherme Honório

Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Jean-Paul Sartre e Martin Heidegger estão sentados numa mesa. Tudo isso precedido por uma citação de Salvador Dalí. Parece o começo de uma piada filosófica-literária, mas trata-se de “Dialetos” (2013), uma animação experimental. Já em “Interiores ou 400 anos de solidão”, também de 2013, o árido sertão de Alagoas é destaque, onde as idiossincrasias desse local são os verdadeiros protagonistas.

 

Diferentes narrativas, carregadas de singulares características, concebidas num único espaço, no histórico bairro do Jaraguá, em Maceió. Eis o cerne do estúdio Núcleo Zero: absorver a influência alagoana e reproduzir em diferentes produções - video mapping, cinema, projetos expográficos, tecnológicos e artísticos .

Um núcleo do zero

Vinte anos atrás, Werner Salles Bagetti, formado em Jornalismo pela Ufal, juntamente com o sócio e irmão, Weber Salles Bagetti, fundam uma agência de publicidade. Posteriormente, a verve cinematográfica floresce, na esteira do primeiro trabalho autoral, o documentário “Imagem Peninsular de Lêdo Ivo” (2004), no qual abordavam a carreira de uma das figuras mais importantes da literatura alagoana. A criação do estúdio permitiu à dupla, segundo Werner, uma maior liberdade na área de atuação almejada por ambos.

“Dialetos” é um exemplo cristalino. Na animação citada anteriormente,  o espectador vê, a princípio, aquilo tudo com estranheza. Afinal de contas, figuras carregadas e representações sombrias saltam aos olhos, enquanto a produção adverte ao público o aperto vivenciado não somente pelo personagem, mas por cada um de nós. Além do mais, a ausência de diálogos soma-se ao balaio da inquietude. No entanto, a experiência surreal, marca latente, é a prova cabal da liberdade criativa, desejada pelos irmãos. Voilà!

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Equipe presente durante o projeto “Arte em Movimento - Velas e Telas”, na Praia de Ponta Verde, em 2022. (Foto REPRODUÇÃO/INSTAGRAM NÚCLEO ZERO)

Os pontos de influência 

Em poucos segundos de conversa, Werner denota, por meio do sotaque, não ser alagoano. Todavia, como ele bem destaca, “é apenas um detalhe”, pois reside há mais de trinta anos na Terra dos Marechais, além da mãe, esposa e os filhos serem daqui. O “passe-livre” do brasiliense é refletido na acuidade em que os traços do Estado são retratados nas obras, seja à frente do roteiro ou na direção.

Embora seja a segunda menor federação do Brasil, Alagoas é uma opulência cultural. Abarcar a diversidade existente requer todo um cuidado, ao mesmo tempo em que é uma fonte sedutora de histórias, como as vistas em “Interiores ou 400 anos de solidão” (2012). O foco é o Sertão, representado pelos habitantes de cidades alagoanas, afligidas pela seca. Mas não é o único objeto em destaque: a fé torna-se um alívio aos habitantes dessas plagas; cantigas regionais, entoadas no momento da labuta, unem os trabalhadores; e a resiliência feminina, quando confrontada com as adversidades, permanece resistente.

Vale ressaltar o papel da tecnologia, no auxílio à ressignificação de pontos importantes, através do video mapping,. A técnica consiste na reprodução de vídeos em superfícies irregulares, tal qual realizado no Museu Théo Brandão, importante símbolo de Maceió, em 2014. Na ocasião, foram projetadas várias figuras e desenhos conectados a Alagoas.  Semelhantemente, “Arte em Movimento - Velas e Telas” colocou, em velas de jangadas na praia de Ponta Verde, na capital, obras de 16 artistas da terra, em 2022.

“Cavalo” é um marco na indústria audiovisual alagoana. O projeto foi fomentado por meio de edital público e integrou a lista final de longas-metragens concorrentes a uma vaga no Oscar de 2022, na categoria Melhor Filme Internacional.

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 (Foto: REPRODUÇÃO/INSTAGRAM CAVALO)

O apoio crucial do poder público

Trabalhar com cultura, no Brasil, é uma tarefa árdua. Em Alagoas, torna-se hercúlea. No intuito de sanar as dificuldades, o apoio público vira um importante aliado desse setor da economia criativa. 

“Cavalo”, lançado em 2020, produzido pelo Núcleo Zero, entrou para a história das produções audiovisuais alagoanas, sendo o primeiro longa-metragem fomentado por meio de um edital público. Sucesso de crítica, é tratado como um marco na política cultural do Estado - inclusive, integrou a seletiva final de longas brasileiros para representar o país, no Oscar de 2022, na categoria de Melhor Filme Internacional.

“A maior parte dos nossos projetos autorais são frutos de leis de incentivo. Acredito que isso seja super importante para a produção. Não vejo como produzir audiovisual sem apoio dos editais. Eles foram fundamentais para a gente, desde o primeiro, há vinte anos atrás”, frisa Werner.

Parte da equipe, composta por Ulisses Ribas, colaborador, Rebecca Machado, designer gráfica, e Werner. (Foto: Guilherme Honório)

Novidades à vista

As produções na Núcleo Zero estão a todo vapor. No momento, os trabalhos consistem num curta-metragem stop motion; um longa-metragem de ficção; coprodução de um longa de animação; além de projetos na área de realidade virtual e video mapping. De acordo com Werner, todos com previsão de estreia entre 2024 e 2025.

Mais recentemente, uma importante colaboração chegou à marca de dez anos: a parceria com o Centro Cultural Arte Pajuçara, no qual o Núcleo Zero assina a identidade visual do espaço. A junção de dois espaços ímpares à cultura alagoana ocorre desde a época do Cine Sesi - encerrado em 2013.

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Produto editorial desenvolvido na disciplina Oficina de Edição de Mídia Impressa e Digital. 

Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas.

Campus A. C. Simões.

Maceió (AL), setembro de 2023.

Jornalista responsável: Vitor Braga (MTE 1009 AL).

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